19 anos já! Isso mesmo?! A um passo dos 20 e os 25 estão logo ali, na virada da esquina. E esse mistério, essa incerteza absoluta quanto ao que encontrarei no outro lado, se é que chegarei lá, me aterroriza um pouco.
Sim, numericamente se passaram 19 anos, 228 meses, mais de 990 semanas, e uma conta imensurável de dias somados e subtraídos, da minha vida. 18 invernos e uma primavera se passaram. Tendo hibernado grande parte de minha infância, a perdi e não gostei muito de como a encontrei nos escombros da minha memória. Está destruída, deformaram-na e em vão tento restaurar os fragmentos que restaram e tirar-lhe as incrustações.
Para os outros, tudo passa rápido, enquanto se olha para trás. Já para mim, os anos e o tempo passam dolorosamente inconsistentes. Fugazes, mas também inertes. A vida escorre viscosa e turva pelas minhas mãos.
Sou teoricamente jovem, mas há muito me sinto velha. Como quem nunca viveu e já não tem mais tanto tempo para isso. A juventude que vêem em mim é superficial e frágil. Minha jovialidade, me é difícil retê-la quando a uso de forma a encobrir minhas tristezas e dúvidas perante os outros, tão volátil ela é.
Queima fácil qualquer faísca que me venham a atiçar. Daí inflama e incendeia tudo. Depois, dos momentos e das pessoas, só vejo diante de mim suas cinzas e fumaça, que embaralha minha visão. E eu, fico como que em carne viva, tamanha minha dor, estuporada. Assim, qualquer coisa que eu tente tocar ou qualquer um que venha encostar-se a mim, me machuca. Umas feridas que nunca se fecham nem eu consigo tratá-las.
Sou um pouco de plasma, íons superaquecidos em sinapses descontroladas nas áreas emotivas do meu cérebro. E sou feita de imagens, reflexos e lembranças que são guardadas por cada pessoa que me conheça à sua própria maneira e conseqüência.
Dentro de mim só há o vazio contido numa caixinha feita de pesadelos lúcidos, na maioria, um pouco de tristeza, indignação, uma nostalgia irreal e o vento circulando louco. Ou será que sou eu que estou presa dentro dela, encerrada sob solidão, más lembranças, decepções e frustrações não sublimadas? Atormentada por uma saudade de felicidade e amor pueris que já não tenho certeza se em algum momento existiram. De qualquer maneira, não consigo abri-la, para jogar fora esses ressentimentos irracionais ou me libertar.
Eu tinha inventado, sem perceber, um amor para me distrair. Encontrei-o no oceano de um olhar no qual eu mergulhei e em cuja imensidão eu me perdi. E nas profundezas de seus mistérios era engolida e consumida a cada dia mais. Quase me afoguei.
Sentia as paredes dessa caixinha serem serradas. Não sei se por mim ou outras pessoas. Só sei que dói: é meu coração. Nós na garganta me impedem de falar, me trancam a respiração nessas horas.
Sonho em abrir os olhos e poder enxergar o céu claro, azul límpido, ou melhor ainda, colorido como uma aurora e com arco-íris... Todos os dias, pelo menos dentro de mim. Quero um horizonte à minha frente para ultrapassar, por mim mesma e poder voar pousando onde quiser. Não sirvo pra ser peixe!
Uau. Sinceramente, acho que esse é o texto ( ou desabafo, quem sabe?) que eu mais gostei de todos os que tu escreveu que eu já li. Me fez até ter vontade de escrever um também... :p
ResponderExcluirMas é incrível, as verdades das tuas palavras são quase palpáveis, tu expressou muito bem o que estava sentindo.
É claro que não posso dizer que eu entendo exatamente o que tu sente, porque as minhas experiências são muito diferentes, mas em alguns momentos do texto eu consegui me identificar com muito do que tu escreveu. Como a sensação de que os anos escorregam por entre nossos dedos, com aquele sentimento de que não há mais tempo para nada e que o que passamos parece não ter sido suficiente e nem de longe o necessário.
Mas uma coisa tu pode ter certeza. Por mais que seja ruim e possa doer ver as cinzas de uma relação espalhadas na tua frente, tu sempre poderá dizer que foi sincera nos teus sentimentos e que diferente de muitas pessoas, não vive os sentimentos pela metade, com medo de justamente enxergar as cinzas e fugir antes de passar pela experiência.
E mais uma coisa que eu posso dizer é que a gente enxerga com muito mais facilidade a solidão e o vazio que existem dentro de nós, e a melhor maneira de se libertar desses sentimentos é vivendo novos, é substituindo eles por histórias de vida que vão acontecendo com o tempo.
E nunca esqueça que tu tem a grande sorte de conseguir expressar e libertar teus pensamentos através das palavras!
Um grande abraço amiga!
Muito obrigada, Mila! Pois escreva mesmo quando tiveres vontade, ou assim que precisar. Tenho certeza que sairia um belo texto de ti. Que bom que saiu algo palpável, é sempre um dos meus objetivos.Não gosto quando fica muito sem sentido. É, realmente não sinto nada pela metade, não é à toa que já tenhos cabelos brancos, haha Mas o Zaratustra(do Nietzsche) já percebia que não é possível queimar no próprio fogo sem se tornar cinzas, deve ser isso... Um enorme abraço pra ti!! Beijo ;)
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