O Uruguai no século XX foi um dos
países na América Latina que viveu sua ditadura militar, de 27 de junho de
1973, após um golpe de Estado apoiado pelo próprio presidente Juan María
Bordaberry e em crise econômica já de longa data, até fevereiro de 1985. E foi
sobre este cenário, no qual ele mesmo esteve presente, que o uruguaio Mario
Benedetti escreveu o desconcertante e maduro romance Primavera num espelho partido.
Santiago
foi preso durante a ditadura e implacavelmente separado de sua família. Sua esposa, Graciela, junto com sua pequena
filha, acaba sendo obrigada a se mudar para a Argentina. Elas tentam
reconstruir sua vida enquanto ele permanece detido. Apesar do desterro, ainda
há esperanças de retorno. O tempo na cela passa de maneira bastante diferente
para ele, como se o tempo tivesse parado. E ela, já não sabe mais para onde
suas escolhas a levarão.
A
história se constrói no fluxo de diferentes vozes que se intercalam, incluindo
o próprio autor, contando suas amargas experiências no exílio. Há os relatos Intramuros, o imprevisível
comportamento humano em Feridos e contundidos, o velho Dom Rafael, paternal e
sensato, o Outro e a pequena Beatriz, esperta e que rende boas risadas com sua
ingenuidade. E essa é a mistura de sentimentos e impressões que trata de
contradições humanas e a busca de um sentido na vida.
É
uma boa obra porque é a história é como na vida real: as pessoas são
imprevisíveis, nunca se sabe o quanto as circunstâncias podem transformar quem
amamos e mesmo o amor é sujeito ao esmorecimento. Apesar dos pesares, tudo o
que se pode fazer é seguir vivendo... Afinal, a primavera sempre volta.