20101211

de mim

de mim, que tanto falam
quero que reste
o que calei
que tanto rezam por mim
quero que fique
o que pequei
de mim, que tanto sabem
quero que saibam
que não sei

M. Medeiros

20101102

Apenas para preencher

Nada.
Nada demais,
Nem de menos
Nem de mais.
Nada de menos, também.

Ah, pára com isso.

Despedi-me, sim.
Nem maravilhoso,
Nem de todo ruim.

(não posso escrever agora: gente ao lado...)
(digo, não podia. sozinha de novo. E mesmo assim, nao consigo escrever qualquer coisa, seja semântica ou filosófica.)
Há uma zoeira contundente nessa abertura da 25ª MOSTRATEC comprimindo minha mente em seu próprio vácuo....
Mesmo não tendo nada a extravasar no momento nem algo sobre o qual escrever, sinto essa necessidade ansiosa de reunir letras num papel, pois que elas seguem em fila para formarem as palavras que vão me acalmando.
Além disso, escrevendo meus pensamentos, eles caminham, vão além...
Mas no que eu estava pensando mesmo?
Às vezes, fico para trás. Não sei. As palavras têm pressa. São rápidas, egoístas e cheias de indiferença diante desse mundo que nos cerca.
Viu só, elas já estão me deixando. Estão muito lá na frente, sumindo no horizonte desta linha...

20101003

analiticamente focado ou geometricamente indiferente

"Eu deveria tentar tratar o vício e a loucura humanos geometricamente..
as paixões causadas por ódio, raiva, inveja, e assim por diante,
consideradas em si, seguem a necessidade e a eficácia da natureza...
Tratarei, portanto, a naturea e a força das emoções da mesma maneira, como se eu estivesse preocupado com linhas, planos e sólidos."

Baruch Spinoza

Isso só se aplica às minhas moléculas com comportamentos nada racionais... Assim como elas, detesto geometria analítica e me entedio com álgebra. Mas finjo parcialmente uma indiferença, deixo que elas fiquem garbosas de sua geometria espacial e logo ficam exultantes, começam aprontar em suas inextricáveis conexões conspiradoras. É aí mesmo que me desando, perco a autoridade... Eu deveria ser mais firme. Falta eu descobrir como conseguir sozinha.

perigo

A superatividade nas sinapses de dopamina(essa menina antenada e simpática na imagem acima)
em muitas regiões do cérebro pode me levar à esquizofrenia (!)
Certo que eu já desconfiava disso, mas essa afirmação,
e, consequentemente, a confirmação de meus receios, é de apavorar...

eletroquímica

Preciso aumentar urgentemente a voltagem no meu eletrólito encefálico...

20100925

Puzzle interno

Não ouço direito, dispenso de antemão o que não quero ouvir, a mentira me cansa.
Não aprendi a falar, o silêncio me escuta e cala.



Só sei ler e escrever.
Meus olhos me sussurram o que quero, uma realidade reinventada.
Meus dedos gritam o que é preciso calar, sentimentos que tentam mentir verdades.
Minha mente se distrai brincando de puzzle, para não olhar a memória profanada e despedaçada.
Tem medo do que vai restar.

Sem sair do chão

     Aquela cena, que se repetia, a cada vez mais dramática, a irritava. Naquela noite pareceu que não suportaria mais nenhuma outra. E desolada, já estava chorando as tão previsíveis, e até ensaiadas, lágrimas, quando, então, parou e, sem perceber, improvisou.

     Por instantes sacudiu furiosamente seus braços para cima e para baixo atrás de si. Logo, logo acabou encontrando uma moral para seu ato. Eram a ansiedade e o desespero por dar movimento ao seu mais puro desejo, que até aí lutava para sair da sua falsa subconsciência: O de bater as asas escondidas e alçar vôos, ter sua liberdade.

     Uma mímica tão simples e clara, como um céu azul, mas que só ela podia ver e interpretar. Não havia ninguém presente para adivinhá-la. E, mesmo que tivesse isso não seria possível.

     Resignou-se, e não querendo mais que alguma tristeza escorresse pelo seu rosto, voltou-se para o chuveiro, para o banho insone interrompido. Para que este vertesse sobre si alguns derradeiros minutos de calma e prazerosa solidão. Mas desceram somente relutantes e árduas gotas que em nada poderiam consolar. Pois ele também se magoava e ficava entediado com aquilo. Também o chuveiro havia pensado em chorar. Pelo menos não estava sozinha no seu sofrimento, as coisas tinham empatia por ela.

Ficou, enfim, com o dilema de seu pássaro interior...

     Como voar com suas asas cortadas, ou que talvez nunca existissem, tendo suprimentos ao alcance somente em sua gaiola, que a prende no nada? E o que mantinha seu instinto e sua resistência a existir simplesmente naquelas circunstâncias?

    Ah, sim, são frestas que a fazem enxergar um pouco do mundo lá fora. E deixam escancarado um abundante ar livre para inflar-lhe a alma. Ao se lembrar das possibilidades que iam se inventando ao longo de seus dias, acaba tentando submeter-se a uma paciência e esperança, desconhecidas, para a regeneração de si mesma.

     Sente uma necessidade louca de fugir, para bem longe, onde nem o céu seja limite. Ir além. E para sobreviver, precisa desenhar um horizonte, enxergar uma linha para ultrapassar e saber que depois dessa, outra pode surgir, sempre. Quer entregar-se ao vento que lhe ronda louco, o que faz viver valer a pena, mas deve olhar por onde ele a leva, para todos os lados, principalmente para frente.

     E assim ela alçaria seu voo imaginário. Não tão livre assim, afinal liberdade não tem começo, nem fim, nem horizonte... Apenas se busca ou inventa. Voaria, então, sem sair do chão.

pseudo: J. Prèvert

20100731

quimicamente feliz


Vida bizarra, mas linda! Apaixonante, e caótica, por vezes estressante, mas perfeita em seu mecanismo químico no meu ser.
Sou feita de um turbilhão mágico de reações neurobiológicas!

Às vezes, quase transbordo de epinefrinas, cortisol, feniletilamina, dopamina, oxitocina, endorfinas, hormônios... mas, sabe, por mais que algumas circunstâncias pareçam insuportáveis ou inadmissíveis, eu vivo tudo com o maior prazer!

 

       Aquele prazer de alguém que ri consigo de uma graça que está onde nenhum outro enxerga...
      

20100620

Emoção calada


Vi-o  lá embaixo, pela janela.
Entrou um tempo depois, só por minha causa.
Ficou esperando por mim, pela minha atenção.
Era bem o que eu queria
Estivera ansiosa para estar com ele, conversar.
Podia sentir o calor de sua presença,
Senão o de seu corpo,  quando se aproximou de mim.
Sua mão suave algumas vezes acariciava minha coxa inerte.
Tal como se fosse uma pluma que resvalasse sobre a pele desnuda...
Quanta ternura podia sentir além de uma perplexidade contida.
Eis o que esse gesto me causava.
Contudo não podia permitir-me qualquer emoção.
Apenas um afetuoso silêncio por dentro.

20100521

Je me cacherai là


Sans rien dire
D'un sourire
Faire semblant de ne rien voir
Aurais-tu pour me connaître
Si c'est un autre que tu vois
Comment d'un reflet différent
c'est l'infini de l'espace et du vent qui m' rend folle,
Qui me laissent femme,
Qui vaille d'être là
Il semble que mes bras soient devenus des ailes
Il semble que quelqu'un ait convoqué l'espoir
Le temps s'est arrêté, les heures sont volages, tout paraît inconnu
Le bruit du chagrin s'éloigne lentement
Et le bruit du passé se tait tout simplement
J'en connais même tellement ça me prend trop de temps
Je me cacherai là
A regarder
Je ne suis celle que tu croix

20100401

Fui e não sou


E me dá uma saudade de ser quem um dia fui,
Também, de ser o que não fui.
Agora, por enquanto, sou o que em mim flui...
Mas não sou isso.

- Tem um tesouro na casa ao lado.
- Mas não tem uma casa ali.
- Então construiremos uma.
Era isso que ela tinha a dizer para seu amado. Faltou ele chegar perto para ouvi-la.

20100320

Outubro


E lá vem ele.

Agora o fantasma poderá ser lúcido e nítido outra vez.

Pois que então venha logo me assombrar, daquele jeito que faz meus olhos brilharem, meu corpo tremer e meu coração disparar.
Quero desta vez mergulhar para o outro lado do seu olhar fugidio.

Aqueles abraços e o colchete


Se eu tivesse sido mais abraçada...
Por favor, mais um abraço daqueles magnéticos
(pedia eu)
Por este, eu faria um desvio de verso
[eterno só para nós...

Abnegação (2008)

Maurits Cornelis Escher (um gênio!)

'Eu não gosto desta letra gordinha e espalhada.
É uma mulherzinha muito espaçosa.'


OBS: na verdade, gostei desta com a qual digitei...
Quanto à frase, talvez minha mão deve ter achado a minha caligrafia um tanto inconveniente ao escrever Abnegação. Parece que soltando essa palavra naquele espaço, sem data que o comandasse, ia me soar melhor se eu a deixasse sozinha, para que nada pudesse dar razão ao seu sentido...
Não foi o que aconteceu. Tem um significado corrosivo demais...

Espaço livre 2008

Nem tão livre assim.
Afinal,
Liberdade não tem começo
Nem fim
Nem horizonte...
(...)
Risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor!

20100315

Dor também digital?


Amanhã*, fui discar, digo, escrever na agenda telefônica o nome Dorli,
mas a letra L demorou a aparecer...
E por um instante ficou escrito apenas Dor.
As bochechas molhadas me denunciavam e não era possível negar.
Sim, era verdade que estava sentindo-a em tudo. E muito.
Pelo menos o celular soube reconhecer sozinho, talvez, que ele,
às vezes...
... também me fazia sofrer.
Amanhã: página seguinte, 13/02.

Neópolis

Hummm... Um bairro sem graça. Com ruas chatas, de chatice mesmo. Mas, curioso... Pode-se ver aqui e acolá uns matos elegantes, ou ter sua cabeça quase arrancada por uns espinhentos meio perversos, que escondem umas casinhas graciosas e lugares maravilhosos... ao mesmo tempo que deixam à mostra muita imaginação. E esta, por sua vez e sem pudor, traz, a mim, muitos desejos... tão secretos quanto os jardins que fizeram parte de uma infância roubada.

20100314

09/07/08


Dia sombrio, e frio. Em minha companhia tinha apenas o vento, conversando com o meu pensamento. O qual estava invejando os pássaros negros voando no céu. A chuva se confundia com as finas lágrimas que rolavam impertinentes pelo rosto. Assim, talvez, ninguém perceberia. E eis que tive vontade de pedir a ele que carregasse o meu segredo consigo para sussurrar no ouvido do meu amado o que eu não ousava dizer por mim mesma. Tendo deixado isso ao seu encargo, voltei para a realidade, para pessoas que tinham muito a me dizer pessoalmente: meus mestres.
Depois estava eu perdida no vazio da minha alma, tentando preenchê-la com o mistério das árvores dançarinas lá fora... hesito em continuar nisso e olho para o lado. Me deparei com meu fantasma, na janela do outro prédio, me espiando por entre as persianas. Não reconheci de imediato, mas logo ficou claro: não era minha alma que estava vazia, eu é que estava. Afinal, ela apenas tinha fugido para o outro lado um pouco.
A essa altura já estavam me faltando linhas. Mas, no fundo, eu precisava mesmo era de linhas infinitas.

Quase recíproco


'Você toca meu coração, minha alma... kero dividir com vc meus sonhos, medos, e realizações...Quero te ver sorrir, cantar, rir, sonhar... Segurar seu braço com o meu, roçar meu ombro com o seu...'
'Sou um sonhador, e kuando estiver acordado, quero voce do meu lado, pra minimizar a dor de não ter o mundo com que sonho. o Mesmo quero que vc faça..'
Onde q foi parar tudo isso....?
Essa era uma pergunta minha. A resposta deveria estar contigo, mas já a encontrei. Isso tudo não foi a lugar algum. Ainda não saiu de dentro de ti, tu ainda não acordastes (ou seria eu que não acordei?). Um de nós dois não enxergou o outro quando acordou, ou então nunca acordamos. Continuamos a sonhar e agora o sonho virou um pesadelo lúcido.
(e pensar que me sentia exatamente assim, como essas frases que me escrevestes...)
Sabe, me arrependo das vezes em que me meti a ser dura, tanto comigo mesma quanto contigo. De ter me afastado, me calado. Na sexta-feira, quando tu pegou minha mão foi um alívio tão grande que não acreditei, era aquilo que eu tanto esperava (um gesto, nada de palavras) e não tive coragem de abrir os meus olhos procurando os teus com medo de não te encontrar lá.
Eu vejo essas fotos e mergulho num oceano de calma, de dúvidas, de um doce pranto... Quem são aqueles dois?
Nós podemos conhecê-los com calma. Vamos devagar. Venha sem medo. Eu quero seguir em frente, sem olhar para trás.
E tudo isso passou, acabou. Se afogou no silêncio de um e de outro.

20/04/08

Não aguentava mais aquele vazio. Já não sabia mais o que era sorrir, o que era felicidade. Não sabia o que sentia, ou se sentia. Era apenas um corpo desprovido de vivacidade, sem razão de existir. Estava desalmada e queria sua alma de volta.

Muito barulho por quase nada


Quanto drama para tão estreita existência...
Não pode se deixar ficar em tão constante melancolia.
Não quer viver apenas para a dor de recuar a tudo e amar demais, presa na ironia de seus amores.
Melodrama é chato! E ainda assim veio cheio de intimidade, o petulante e insosso!
Em contrapartida, nada a alegra mais do que a conquista de um sorriso.

20100312

Imagem não captada

Mais por ter lido a previsão do tempo para aquela semana do que por uma perda de esperança,
Ela não se conformava com ter perdido a oportunidade de registrar,
Nitidamente, aquele pôr-do-sol, esplêndido e singular,
todo extravagante em seu glamour de cores ardentes, com nuvens vaidosas, de todos os estilos, espalhadas a sua volta.
Tola!
Claro que algo semelhante não voltaria, jamais. Justamente por ser singular.
Aliás, é essa exclusividade que uma aurora ou um crepúsculo, juntamente com as nuvens, têm de tão maravilhoso:
céus que nunca se repetem, uma obra de arte...

Preparando-se para queimar

Imagem: Sue Beatrice
Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?

Assim falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche

20100310

Simplesmente infernal


Pelo caminho lhe surgem homens angelicais que, por vezes, a levam a um inferno. E teve uns que conseguiram até mesmo fazê-la viver ao avesso e passar, insatisfeita, por cima de seu orgulho. Logo ela, que achava ser sensata, com um mínimo de juízo. Ainda não sabe direito o que lhe fizeram quando tudo estava errado, o que torna tudo ainda mais incompreensível.

No entanto, teve por um brevíssimo tempo, e ainda poderia ter de volta, alguém superficialmente diabólico(para seu disfarce)... Apenas esse poderia levá-la aos céus que os outros prometem, bastando apenas embarcar através de seus olhos cinzentos, como na última vez. Mas este escondeu tanto mais suas asas que as perdeu, pelo que parece. O que os limita a permanecer em terra firme, ou mesmo perto de algum inferno.
E assim ela fica, nem nas trevas nem no paraíso, mas num buraco negro... distraindo-se eternamente do seu excessivo lado zeloso com perversões que a enfastiam tanto quanto seus desejos mais ingênuos.

Técnica fotográfica


 
 

20100304

qui parle pour moi


J'ai ton désir ancré sur le mien. Tu sais les mots sous mes silences, tiens, rien ne nous emmènes plus loin...
Tenho teus desejos cravados em mim. Tu sabes as palavras sob meus silêncios, nada nos leva mais longe...